segunda-feira, novembro 21, 2011

Como os derivativos estão relacionados à crise?

Tecnicamente, derivativos referem-se à ativos financeiros cujo valor depende do valor de algum outro ativo ou da combinação de ativos.

Zé da Pinga é um famoso dono de bar em uma cidadezinha do interior. Muito esperto ele percebeu que praticamente todos os seus clientes são alcoólatras desempregados e, como tal, não podem mais pagar as bebidas que tanto desejam. Para resolver este problema, ele teve uma grande sacada: permitir que seus clientes pudessem beber quando desejassem, e pagassem mais tarde!

Como um bom negociante, Zé da Pinga mantém um controle das bebidas consumidas em um livro (o que viabiliza a concessão de empréstimos a seus clientes).

A estratégia é divulgada na porta do estabelecimento: "beba agora, pague depois". Naturalmente, como resultado desta medida, verificou-se imediatamente um crescimento no número de clientes no bar de Zé da Pinga. Logo, ele tem um volume de vendas tão elevado que levou a uma quebradeira dos outros bares da região.

Zé da Pinga, como bom observador que é, percebeu também que ao liberar o consumo sem a contrapartida monetária imediata, seus clientes resistiam menos quando, em intervalos regulares, ela aumentava substancialmente os preços da cerveja, da pinga, etc, sem que isto gerasse uma queda inversamente proporcional no consumo das bebidas. Conseqüentemente, o volume de vendas brutas do bar do Zé da Pinga aumentou maciçamente.

Um jovem e dinâmico vice-presidente de um banco de investimentos local reconhece que essas dívidas dos clientes constituem valiosos ativos futuros e assim decidiu aumentar os limites de empréstimo ao Zé da Pinga. Ele não vê motivos para qualquer preocupação indevida, já que ele tem as dívidas dos alcoólicos desempregados como garantia.

Na sede corporativa do banco, jovens financistas especializados em derivativos desenham uma forma de fazer enormes comissões, e assim transformar estes empréstimos dos clientes do Zé da Pinga em títulos, os Pinga-Bonds. Os produtos são detalhadamente confeccionados e lançados para negociação nos mercados nacionais e internacionais de valores mobiliários.

Investidores ingênuos adquirem os Pinga-Bonds, a despeito do fato de realmente não entenderem que a origem dos títulos que estão sendo vendidos a eles com o respaldo de que os títulos vendidos com garantias e certificados por agências de risco internacionais como AAA são, na realidade, as dívidas dos alcoólicos desempregados. Não surpreendentemente os preços dos títulos continuam a subir, e caminham para, em breve, se tornarem os mais vendidos no mercado.

Mas, eis que de repente, um gerente de risco de um banco de investimentos local decide que chegou a hora de exigir o pagamento das dívidas incorridas pelos alcóolicos desempresgados do bar do Zé da Pinga... Sem informar sobre isto ao Zé da Pinga!

Zé da Pinga, então, pede o pagamento de seus clientes endividados, mas sendo eles ainda alcoólatras desempregados não podem honrar as suas dívidas, embor continuem reconhecendo (devem, não negam, mas vão deixar para pagar depois, quando puderem). Uma vez que Zé da Pinga não pode cumprir as obrigações dos empréstimos contraídos, é forçado a declarar falência do bar. O bar fecha e os funcionários contratados por Zé da Pinga perdem seus empregos.

Durante a noite, os preços do Pinga-Bond caem 90%. O valor patrimonial do banco desabou destruindo a liquidez do banco e impedindo a emissão de novos empréstimos, gerando, assim, o congelamento de crédito e da atividade econômica na cidadezinha.

Os fornecedores do bar do Zé da Pinga tinham lhe concedido extensões generosas nos prazos de pagamento e ao mesmo tempo haviam investido os recursos de seus fundos de pensão nos títulos Pinga-Bond. Eles agora acreditam que estão confrontados com a necessidade de amortizar a sua dívida ruim de modo a compensarem a perda de mais de 90% do valor presumido das obrigações. O fornecedor de pinga também não vê outra alternativa a não ser a de pedir a falência, fechando as portas de uma empresa familiar que já conduzia o negócio há mais de seis gerações; sua fornecedora de cerveja é adquirida por um concorrente, que imediatamente fecha a fábrica local e demite 250 trabalhadores.

Felizmente, porém, o banco, a corretora e seus respectivos executivos são salvos e resgatados por uma infusão multi-bilionária de recursos, procedentes de um resgate de ajuda de alguns países da região que visa impedir um colapso do sistema financeiro. Os fundos necessários para este resgate são obtidos por novos impostos incidentes sobre empregados, de classe média, não-bebedores que nunca estiveram no bar do Zé da Pinga.

Agora fica fácil entender como os derivativos estão relacionados à crise atual, não é?


Adaptado de http://www.jumbojoke.com/understanding_derivatives.html

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